quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A volta de Julieta (Parte 1)

Essa história seria uma "quarta parte" do Conto de Julieta . Nunca fiquei totalmente satisfeita com o final que dei para essa personagem, por isso decidi dar uma nova chance à imaginação e torná-la mais coerente. Aí vai! Espero que gostem...

Recebi o telefonema e não sabia se ficava mais surpresa pelo fato dele lembrar de mim ou de ter conseguido o meu telefone depois de mudá-lo umas 12 vezes. Talvez eu me precipitei em aceitar o convite dele para sair, mas o que está feito, está feito. Depois de uma separação tão traumática eu precisava relaxar, mesmo que isso me trouxesse à tona todo um passado.
Cheguei mais cedo que ele, como sempre. Tudo continuava igual naquele bar, o mesmo ladrilho branco, a mesma mesa manca, o mesmo banheiro mau-cheiroso... Fazia tempo que eu não me sentia tão confortável, foi como voltar à minha juventude que, depois do casamento fracassado, me parecia muito distante.
Por um joguete do destino, ele também não tinha mudado nada. A barba continuava por fazer, a camisa ainda desbotada de alvejante (coisa que ele nunca aprendeu a usar), e juro, até mesmo a calça era igualmente larga e gasta. Enquanto ele andava em minha direção um filme todo passara na minha cabeça.
Sorriu ao me ver e sentou-se bem ao meu lado, isso mesmo, ao meu lado em uma mesa para dois. Me assustei e logo ele se justificou: "Ainda tem um buraco no meu lugar.". Não faria mal então, certo?
Ao contrário do que as roupas diziam, ele contava que estava empregado há cinco anos, ganhando muito bem e que agora morava sozinho, num apartamento que ele alugava enquanto juntava dinheiro para comprar o seu.
"E você, que fim levou?"
"Voltei há alguns meses para o apartamento do meu avô."
"Sempre gostei de lá."
"Eu não", ri para disfarçar minha vergonha e, embaraçado,ele mudou o assunto para um pior ainda.
"Você casou, né? Um tal de Thiago, eu soube. Como está tudo?"
"Não está. Me separei, ele foi para Portugal."
Claro que não cabia falar que ele havia me traído com a gerente do restaurante dele, minha melhor amiga por acaso, e que não cogitou ao receber o convite para Portugal com ela, abrir uma filial do restaurante que eu ajudei a construir. Fazer o quê? Devia ser vingança da vida.
A conversa mudou ainda mais rápido que a anterior e fluíu até o bar esvaziar e nos sentirmos envergonhados o suficiente para pedir a conta e procurar outro lugar. Surpresa ou não, esse outro lugar seria a casa dele.
Aceitei por aquilo não estar fazendo sentido algum desde de a hora que ele me telefonou e nenhuma atitude que eu tomasse naquele momento mudaria o teor da noite.
Cheguei e sentei no sofá vermelho, o mesmo que eu havia tingido por achar que o azul-celeste doia meus olhos, e abrimos mais umas seis latas de cerveja.
"Você está mais resistênte.", riu.
"Deve ser por que eu nunca bebi com tanta frequência."
"Buscando afogar as mágoas na bebida, Ju?"
"Pelo visto você também, né?"
"É que faz tempo que não acho alguma coisa melhor que cerveja."
"E alguém melhor, você achou?"
"Desde você? Ninguém que valesse a pena..."
O silêncio invadiu a sala. Não podia deixar assim, o silêncio sempre foi perigoso para mim.
"Como te chamam agora?"
"Só de Felipe mesmo,e no trabalho é sr. Campos."
"Sr. Campos, é? Bate até estranho no ouvido!", briquei.
"Também não é assim, sra. Lins."
"Isso, só Lins mesmo..."
"Mais uma? Ainda têm várias na geladeira."
O silêncio se desfez, para a minha sorte, mas os olhares continuavam perigosos...

CONTINUA.

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