segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A volta de Julieta (Parte 2)

Enquanto ele ia para a cozinha pegar todos os elementos possíveis para uma boa ressaca no dia seguinte, reparei numa estante cheia de cd's antigos.
"Los Hermanos, Lô Borges, Raimundos..."
"Escolhe algum e coloca no som de cima, só tem que fechar a tampa bem forte!"- berrava da cozinha.
"Nossa, Nenhum de Nós... esse aqui era meu!"
"Se você quer saber, não foi a única coisa que você deixou aqui."
"Pode parar de gracinhas, nem foi tanta coisa assim... Tem que fechar a tampa forte, então?"
Lembro exatamente a razão da compra daquele disco. Foi  numa das nossas primeiras conversas, quando a gente ainda saía sem compromisso algum. Eu não gostava de Nenhum de Nós, mas queria tanto entender o que passava pela mente daquele rapaz tão interessante que comecei a ouvir e acabei comprando para me fazer de entendida. O pior? Gostei tanto que sei todas as letras até hoje.
Acústico Ao Vivo, volume dois, faixa três. Tão adepto ao momento! Nenhum de Nós, sempre tão adepto à nossa tumultuada história...
"Por que você não disse que viria, logo agora que eu tinha me curado das feridas que você abriu quando se foi..."- cantarolou da cozinha
"Pensei que eu era a única que lembrava das letras!"
"Não é só porque tava no fundo da prateleira que eu deixei de ouvir. Além do mais, você sempre gostou dessa música."
"Eu era muito diferente, né?"
"Se tivesse mudado tanto assim não botaria na mesma faixa."
"Eu era muito imatura..."
"Nunca achei."
"Você talvez seja uma das pessoas que tenha mais o direito de me chamar do que quiser..."
"Ju, o que aconteceu foi fato isolado, sempre tive certeza disso, por isso que nunca te culpei de nada, nem nunca perdi a admiração por você. É claro que demorou um tempo para eu me ajustar, mas eu entendo tudo que você fez, mesmo."
"Você fala como se não fosse nada! Eu pensei que você nunca fosse me perdoar, até porque eu não merecia ser perdoada."
"Isso já foi há tanto tempo. Além do mais, não te telefonei para tirar satisfações sobre o que aconteceu entre você e o Luíz, eu queria só relembrar os velhos tempos, conversar, beber... Não precisamos falar mais disso, Julieta."
"Está certo."
Não podia esconder mais a minha curiosidade. Esse negócio todo de relembrar os velhos tempos era muito vago. Ninguém corre tanto atrás de uma "saidinha" assim, boba. Mais uma vez todos os atos dele me confundiam. Rompi o silêncio...
"Por quê você me ligou?"
"Já falei! Queria te ver..."
"Não é isso, não pode ser!"
"Por quê não pode ser?"
"Você sempre foi assim, sempre deixou alguma coisa ou outra nas entrelinhas, nunca falava nada por inteiro. Ainda pouco você me falou várias coisas que me fizeram entender  que o que você queria não era só me ver, conversar, fingir que somos bons amigos e só. Essa separação já deixou minha cabeça na lua, não é justo você criar mais confusão!"
"Eu não quero isso, juro. Eu também estou muito confuso."
"Confuso com o que? Isso que eu quero saber!"
'Eu vivo lembrando de você, não sei, não tenho explicação. Então eu resolvi te procurar por todos os meios possíveis pra ver se tudo aquilo que eu senti era só pela sua memória ou por quem você é hoje..."
"E o que você viu?"
"Já disse, você não mudou tanto assim..."
Então era isso que eu queria ouvir, mas agora eu não sabia o que responder. Todo aquele discurso parecia sempre tão ensaiado na minha cabeça,então o momento me deixou sem palavras. Eu não queria correr mais um risco, machucá-lo denovo. Eu me conhecia o suficiente para saber que aquilo nunca iria dar certo, não é?
"Acho que a gente poderia tentar denovo..."
"Quer mesmo, Ju?"
"Você não?"
"É claro! Mas você não quer nem pensar mais?"
Minha inpulsividade não permitiria que eu pensasse mais um minuto. Era como se aquela nova paixão pudesse curar toda a minha vida, pudesse dar razão a ela. Mais uma vez eu sabia o que ocorria comigo, sabia onde eu estava me metendo, e não fiz nada para impedir. Absolutamente nada.

CONTINUA.

Um comentário:

  1. vc não tem noção o quanto me identifico com a pobre coitada da julieta. eu e ela. sempre nos fodendo. com força!
    amo, gi. não pare de escreveeeer

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