terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Tudo que ela te diria

em homenagem e a pedido de uma amiga.

Já não sabia mais se usava vestido, se enchia os situãs para parecer mais madura. Na verdade, ela não sabia se o queria mais ou se só queria falar.
Fechou a boca, vestiu o que tinha, pegou o ônibus.
Ao ver, sem surpresa, o coração disparado, a vergonha vinha desde o leve formigamento da boca, até os pés perdidos nas sandálias.
- Você está diferente. - ele riu.
- Deve ser a vergonha...
- Definitivamente, não é.
Mais uma frase que ela não entendia e um silêncio por alguns segundos.
- Sabe, isso deve ser rápido. Eu não vou enrolar, quero dizer logo, mesmo que eu já tenha feito você entender.
- Eu não entendi muito bem, não, viu?
- Qual parte você não entendeu?
- A parte que se refere ao que você quer comigo.
- Do que eu quero com você? Eu sei que você é um cara inteligente...
- Não sou muito, não...
- Mas sabe o que eu quero. Isso você sabe, é certo.
- Então me diz logo.
Se recompôs, olhou para as pedras portuguesas, pensou nelas como os olhos dele.
- Sabe, essa história toda atrapalha minha vida. Eu quero resolver, quero muito. Eu não consigo mais fazer nada, por isso achei que falar com você, cara a cara, seria a melhor forma de resolver isso.
- Você sabe que eu sou muito tranquilo com essas coisas...
- É, é sim. Deve ser por isso que você fugiu o máximo que podia disso tudo.
- Você sabe que eu sou meio complicado, minha vida tá uma confusão.
- Que não deve ser maior do que a você me causou. Eu queria só saber o por que, não tem explicação. Sabe, a gente nem se fala mais direito...
- Sinceramente, isso que eu não entendo também.
- Eu quero acabar logo com isso. Quero muito pensar em você como esse amigo que você diz ser.
- Fala com as palavras certas o que você sente, por favor.
- As palavras certas? É, eu não tenho o que perder...
- Nos meus olhos, se puder.
Ela ficou sem escapatória. Mesmo com medo da ilusão que aquele olhar a causava, respirou fundo e pensou naquilo como a última e única oportunidade.
- Eu gosto de você! Alias, gosto não, eu sou totalmente apaixonada por você. Eu nunca senti isso por ninguém, é o que me enlouquece! As palavras somem, meu coração dispara. Eu só penso em você, droga!
- E o que você espera de mim... Você me conhece e---
- Não espero nada! - interrompeu- Não quero nada! Eu só quero falar. Eu já perdi essa ilusão. Eu não posso ser tão infantil a esse ponto.
- Você não é infantil, é sério. Você é uma moça legal, inteligente---
- Mas nada que você pudesse querer. Quer dizer, isso tudo é uma grande maluquisse!
- Não é não, te juro. Eu entendo...
- Ah! Por que você sempre entende? Por que você sempre tem que ser tão legal? Por que você some depois? E não é só sumir, você sempre deixa algo no ar, sempre tenho dúvidas em relação a você. Aquilo tudo que passou, às vezes me fazia pensar...
- Pensar no que?
- Pensar que você pudesse sentir um milésimo do que eu sentia. Alias, você sempre soube o que eu sentia!
- Eu não sabia muito o que fazer, fiquei confuso.
- E eu falando um bando de besteiras, pensando que escondia algo de alguém...
- Eu devia ter conversado com você, tem razão.
- Nem sei se devia...
- Sabe, você está diferente. De verdade.
- Você já disse isso mas, como sempre, eu não sei o que você quis dizer. - riu.
- Você está mais espontânea, não sei direito.
- Já falei que não tenho nada a perder? Eu desisti de tentar te encantar.
- Boba.
- Boba nada, sou muito esperta. Sabe o que é mais confuso disso tudo? Mesmo estando totalmente apaixonada por você, eu queria que você fosse feliz, então torcia até pra aquela sua ex. Ela podia ser o que fosse ao meu ver, mas eu sabia que você gostava dela, por isso eu fazia de tudo pra você tentar entender o lado que não era seu. Perder pra ela era totalmente suportável.
- Nossa, ninguém nunca me falou uma coisa dessas...
- Eu sei, mas isso não me impedia de detestar essa situação com todas as minhas forças, tá?
- Você é doidinha, mas de alguma forma eu gostei de ouvir isso...
- Então, já que eu cheguei ao ponto que não tenho mas nada pra poupar, melhor perguntar de vez. Eu não quero que você pense nisso como qualquer tipo de ilusão de reciprocidade da sua parte, só quero saber, sinceramente.
- Diga...
- E você? Alguma vez, alguma hora, será que você sentiu alguma coisas por mim, qualquer coisinha que seja?

(Continua...)

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Doce dezembro

Sonhar é muito bonito.
Todo poeta tem um sonho e dele se alimenta, aluscina, entristece, sublima. Não importam as situações, a vida à sua volta, sem um sonho, nada parece seguir um rumo.
Nisso, de tanto escrever sobre mimetizações, de tanto cansar a gramática com inversões sintáticas ou reais, paramos de notar o mundo.Viver de poesia seria um melodrama ideal, principalmente viver das frustradas, remoendo passados só para ter o gosto do sombrio.
Mas hoje descobri, que muito além da ficção, muito mais que as velhas histórias de Marina, Julieta e quem for, nada se sustenta, e nada nunca será perfeito sem o olhar para o lado.
Descobri, de uma vez por todas, agora e para sempre, que meu príncipe encantado pode ser bobo, não apreciar Doce Novembro e falar asneiras em quase todo o tempo mas, pelo menos, ele existe. E eu, sem antes saber talvez, o amo mais do que posso.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Metalinguagem

Para falar do amor que sinto, é preciso muito desejo e sair do silêncio.
O que é lógico só para mim precisa ser para você também. Então, é necessário colocar na descrição muito mais que algo sobre um vazio criativo, que me faz querer alguma coisa mais feliz.
É necessária mudança, mesmo que de idéias soltas, mesmo que só de sua essência. Não se deve fazer do hoje, somente mais um dia, ou disso, somente mais um desabafo. Se assim, na falta, espararei a resposta do que não virá, mesmo em regressão momentânea.
Não dá pra mudar o que ficou, mas ainda tenho como mudar o fim.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Escrever é como gritar para o mundo esperando que ele só tenha uma pessoa.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Do amor que sinto

Hoje descobri que amo, acho que pela primeira vez, pela última vez. Precisei de um tempo para aceitar, bem mais que o necessário. Eu não admitiria isso tão facíl.
Amar? Para mim precisaria de tempo, de circunstâncias, de razão. Não tive o tempo, nem circunstâncias, muito menos alguma razão. Contradisse todas as minhas teorias, a minha racionalidade, a lógica das coisas.
Antes me parecia uma paixão, daquelas bem fortes, de tirar o sono, mas tinha certeza de ser passageira. Pois o tempo passou e tudo continuou exatamente igual. Me desesperei por alguns meses, me questionava todos os dias, pensei estar enlouquecendo.
Eu vi minha vida parada, com tudo em volta em correria, vivendo de pequeninhas coisas do passado, fazendo dele o meu presente. Talvez fosse o modo que eu encontrei para terminar isso: pensar tanto, tanto, tanto até que perdesse a graça.
Não perdeu.
Hoje, eu me conformo com essa fraqueza. Ás vezes até volto a buscar as migalhas do passado, mas não vivo mais disso. Prefiro te ver sorrir, tendo-te ou não, prefiro observar de perto ou de longe. Só isso me dá certeza do amor,  me traz um pouco de paz, e uma felicidade talvez. Sim, mesmo sendo irracional.

silêncio.

De alguma maneira inspirado no filme "Doce Novembro"

domingo, 31 de outubro de 2010

O que ficou

A nossa canção morreu em grito mudo. Não era de amor, dor, mas era circunstância.
Você foi e, dentro de suas malas bagunçadas, me levou e prendeu, prendeu com tudo que ia para Boston. Desde de então não sou porque não vivo aqui, nesse lugar que sem você parece sem sentido.
As portas que não batem mais, a tampa do vaso sempre abaixada, a água sempre na geladeira. Até os vizinhos, cruéis sem saber, perguntam ao porteiro se nos mudamos, pois não ouvem mais os mesmos gritos. Mas foi você, não é? Você que se foi.
Olho pela janela, tudo fora parece igual. E, de fato, da porta pra lá é bem mais facíl.
Mas na estante a madeira é nova onde você colocava os livros, e deixou apenas um: "Senhora". Parece proposital.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Rascunho de sexta

O problema é amar-te
Tanto, que ao maior pranto
Te vejo do amante ao amigo
Que mesmo em mundo deseludido
Te peço como única esperança

E se amar-te não me passasse
Seria, de certo
Terra seca, lagoa salgada
Tempo perdido
Ou seria sem ser

Por isso, peço-te
Que mesmo de futuro incerto
Sustente aquilo que nos mantém
Vindo de quedas ou sublimações
Mas que sempre
O seja amando

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Confissão de quarta.

Tenho o direito de falar de saudade, mas não suas e, sim, daquele que sabia quem era.
Se hoje você passa por mim e nem fala, olha, sente, é porque não sou mais conveniente, e tenho certo. Não há motivos para ter minha atenção em calmarias, é diferente do passado.
Não vou fingir que também não sei que você preferiu acreditar em desconhecidos ao olhar nos meus olhos e perguntar o que havia acontecido. Você diz se arrepender, mas no fundo continua se distanciando como se aquilo ainda fosse verdade absoluta. Não importa, não importou o que eu disse. Ou será que também é conveniente?
Hoje você é todo esse projeto do amigo de ontem. Você se diz igual, mas eu, eu tenho uma teoria, e me vê ainda como uma lunática mas esquecesse que sou igual a você.
Então continue fugindo, querido amigo. Derrepente se fez uma irônia e, penso, sou muito maior que você.

sábado, 16 de outubro de 2010

De cima para baixo

Comigo.
Às vezes o grito é a inseguraça.
Às vezes preciso gritar para acreditar no amor.

Poeminha Matutino

Preciso dizer
Que amo
Demonstrar
Que quero
Mas o pesadelo
Me segue
Como se passado fosse
Como se sonho anulasse

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

É (quase) como se a minha inspiração tivesse sido enterrada contigo,
Dessa terra nada saí, do ciumento nada vaza, do silêncio nada fica.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Poesia visual


















Rosa Cardoso Corrêa.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Remói em mim
O sentimento mais triste
Se ao vê-la partir,
Assim, aos pouquinhos
Já dói um bucado
Imagina quando partires
Sem me deixar ensinado
Ao menos metade do que viveu
Se para ti a vida é passageira
Para mim nunca se tornará passagem
Nem os sorrisos, nem as tristezas
Que vivi, mesmo que tão pouco,
Ao seu lado
Por isso deixo aqui
Em perdidas palavras
O amor que tenho por você, vó
A minha admiração
E o seu imortal legado.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Desistência

Esqueça o que eu te falei
O esforço que fiz
A vontade de tê-lo aqui
A saudade

Esqueça o que foi
Se pra você não foi
Esqueça, simplesmente esqueça
A nossa amizade

Esqueça
Pois queria ter dito
Que de tudo,
Algo adiantou

Esqueça
Esqueça
Esqueça
Esqueça
Esqueça
de mim.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A volta de Julieta (Parte 2)

Enquanto ele ia para a cozinha pegar todos os elementos possíveis para uma boa ressaca no dia seguinte, reparei numa estante cheia de cd's antigos.
"Los Hermanos, Lô Borges, Raimundos..."
"Escolhe algum e coloca no som de cima, só tem que fechar a tampa bem forte!"- berrava da cozinha.
"Nossa, Nenhum de Nós... esse aqui era meu!"
"Se você quer saber, não foi a única coisa que você deixou aqui."
"Pode parar de gracinhas, nem foi tanta coisa assim... Tem que fechar a tampa forte, então?"
Lembro exatamente a razão da compra daquele disco. Foi  numa das nossas primeiras conversas, quando a gente ainda saía sem compromisso algum. Eu não gostava de Nenhum de Nós, mas queria tanto entender o que passava pela mente daquele rapaz tão interessante que comecei a ouvir e acabei comprando para me fazer de entendida. O pior? Gostei tanto que sei todas as letras até hoje.
Acústico Ao Vivo, volume dois, faixa três. Tão adepto ao momento! Nenhum de Nós, sempre tão adepto à nossa tumultuada história...
"Por que você não disse que viria, logo agora que eu tinha me curado das feridas que você abriu quando se foi..."- cantarolou da cozinha
"Pensei que eu era a única que lembrava das letras!"
"Não é só porque tava no fundo da prateleira que eu deixei de ouvir. Além do mais, você sempre gostou dessa música."
"Eu era muito diferente, né?"
"Se tivesse mudado tanto assim não botaria na mesma faixa."
"Eu era muito imatura..."
"Nunca achei."
"Você talvez seja uma das pessoas que tenha mais o direito de me chamar do que quiser..."
"Ju, o que aconteceu foi fato isolado, sempre tive certeza disso, por isso que nunca te culpei de nada, nem nunca perdi a admiração por você. É claro que demorou um tempo para eu me ajustar, mas eu entendo tudo que você fez, mesmo."
"Você fala como se não fosse nada! Eu pensei que você nunca fosse me perdoar, até porque eu não merecia ser perdoada."
"Isso já foi há tanto tempo. Além do mais, não te telefonei para tirar satisfações sobre o que aconteceu entre você e o Luíz, eu queria só relembrar os velhos tempos, conversar, beber... Não precisamos falar mais disso, Julieta."
"Está certo."
Não podia esconder mais a minha curiosidade. Esse negócio todo de relembrar os velhos tempos era muito vago. Ninguém corre tanto atrás de uma "saidinha" assim, boba. Mais uma vez todos os atos dele me confundiam. Rompi o silêncio...
"Por quê você me ligou?"
"Já falei! Queria te ver..."
"Não é isso, não pode ser!"
"Por quê não pode ser?"
"Você sempre foi assim, sempre deixou alguma coisa ou outra nas entrelinhas, nunca falava nada por inteiro. Ainda pouco você me falou várias coisas que me fizeram entender  que o que você queria não era só me ver, conversar, fingir que somos bons amigos e só. Essa separação já deixou minha cabeça na lua, não é justo você criar mais confusão!"
"Eu não quero isso, juro. Eu também estou muito confuso."
"Confuso com o que? Isso que eu quero saber!"
'Eu vivo lembrando de você, não sei, não tenho explicação. Então eu resolvi te procurar por todos os meios possíveis pra ver se tudo aquilo que eu senti era só pela sua memória ou por quem você é hoje..."
"E o que você viu?"
"Já disse, você não mudou tanto assim..."
Então era isso que eu queria ouvir, mas agora eu não sabia o que responder. Todo aquele discurso parecia sempre tão ensaiado na minha cabeça,então o momento me deixou sem palavras. Eu não queria correr mais um risco, machucá-lo denovo. Eu me conhecia o suficiente para saber que aquilo nunca iria dar certo, não é?
"Acho que a gente poderia tentar denovo..."
"Quer mesmo, Ju?"
"Você não?"
"É claro! Mas você não quer nem pensar mais?"
Minha inpulsividade não permitiria que eu pensasse mais um minuto. Era como se aquela nova paixão pudesse curar toda a minha vida, pudesse dar razão a ela. Mais uma vez eu sabia o que ocorria comigo, sabia onde eu estava me metendo, e não fiz nada para impedir. Absolutamente nada.

CONTINUA.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A volta de Julieta (Parte 1)

Essa história seria uma "quarta parte" do Conto de Julieta . Nunca fiquei totalmente satisfeita com o final que dei para essa personagem, por isso decidi dar uma nova chance à imaginação e torná-la mais coerente. Aí vai! Espero que gostem...

Recebi o telefonema e não sabia se ficava mais surpresa pelo fato dele lembrar de mim ou de ter conseguido o meu telefone depois de mudá-lo umas 12 vezes. Talvez eu me precipitei em aceitar o convite dele para sair, mas o que está feito, está feito. Depois de uma separação tão traumática eu precisava relaxar, mesmo que isso me trouxesse à tona todo um passado.
Cheguei mais cedo que ele, como sempre. Tudo continuava igual naquele bar, o mesmo ladrilho branco, a mesma mesa manca, o mesmo banheiro mau-cheiroso... Fazia tempo que eu não me sentia tão confortável, foi como voltar à minha juventude que, depois do casamento fracassado, me parecia muito distante.
Por um joguete do destino, ele também não tinha mudado nada. A barba continuava por fazer, a camisa ainda desbotada de alvejante (coisa que ele nunca aprendeu a usar), e juro, até mesmo a calça era igualmente larga e gasta. Enquanto ele andava em minha direção um filme todo passara na minha cabeça.
Sorriu ao me ver e sentou-se bem ao meu lado, isso mesmo, ao meu lado em uma mesa para dois. Me assustei e logo ele se justificou: "Ainda tem um buraco no meu lugar.". Não faria mal então, certo?
Ao contrário do que as roupas diziam, ele contava que estava empregado há cinco anos, ganhando muito bem e que agora morava sozinho, num apartamento que ele alugava enquanto juntava dinheiro para comprar o seu.
"E você, que fim levou?"
"Voltei há alguns meses para o apartamento do meu avô."
"Sempre gostei de lá."
"Eu não", ri para disfarçar minha vergonha e, embaraçado,ele mudou o assunto para um pior ainda.
"Você casou, né? Um tal de Thiago, eu soube. Como está tudo?"
"Não está. Me separei, ele foi para Portugal."
Claro que não cabia falar que ele havia me traído com a gerente do restaurante dele, minha melhor amiga por acaso, e que não cogitou ao receber o convite para Portugal com ela, abrir uma filial do restaurante que eu ajudei a construir. Fazer o quê? Devia ser vingança da vida.
A conversa mudou ainda mais rápido que a anterior e fluíu até o bar esvaziar e nos sentirmos envergonhados o suficiente para pedir a conta e procurar outro lugar. Surpresa ou não, esse outro lugar seria a casa dele.
Aceitei por aquilo não estar fazendo sentido algum desde de a hora que ele me telefonou e nenhuma atitude que eu tomasse naquele momento mudaria o teor da noite.
Cheguei e sentei no sofá vermelho, o mesmo que eu havia tingido por achar que o azul-celeste doia meus olhos, e abrimos mais umas seis latas de cerveja.
"Você está mais resistênte.", riu.
"Deve ser por que eu nunca bebi com tanta frequência."
"Buscando afogar as mágoas na bebida, Ju?"
"Pelo visto você também, né?"
"É que faz tempo que não acho alguma coisa melhor que cerveja."
"E alguém melhor, você achou?"
"Desde você? Ninguém que valesse a pena..."
O silêncio invadiu a sala. Não podia deixar assim, o silêncio sempre foi perigoso para mim.
"Como te chamam agora?"
"Só de Felipe mesmo,e no trabalho é sr. Campos."
"Sr. Campos, é? Bate até estranho no ouvido!", briquei.
"Também não é assim, sra. Lins."
"Isso, só Lins mesmo..."
"Mais uma? Ainda têm várias na geladeira."
O silêncio se desfez, para a minha sorte, mas os olhares continuavam perigosos...

CONTINUA.

domingo, 8 de agosto de 2010

Ano de burocracia, não há tempo para esse papel.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ciúme literário

Há questionamentos em sua cabeça
Pois assustam as minhas palavras
Reinventam uma realidade
Que passa por ti

Parecem insuficientes
Os sinas das nuvens
As ventanias que nos alarmam
Que temos o verdadeiro amor

Não confunda, querido
O que aqui é colocado
Para imaginar que do passado
Resta mais que a memória

Apenas seja fiel
As palavras que lhe digo
Hão de ser seu consolo
Toda vez que enciumado me lê

Você diz não gostar
Não admitir o que fora
As estradas que percorri
Ou os encantos que tive

Não venho aqui repreendê-lo
Pois em sua situação
É incerto que agiria diferente
Tendo que somos tão semelhantes

Mas talvez possa ver
O quando é besteira sua
Lendo as letras
Que iniciam o terceiro verso
De cada estrofe deste poema.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Dedicado a um amigo leitor

Não é mais um texto de amor, eu digo. Existe em mim algo que no ser humano resplandece ainda mais que os velhos coxixos das paixões de Marina, Julieta, quem for.
Não medirei palavras ao descrever o que explode em minha mente, a mistura de um alívio em saber que tenho-te agora sob a vista da qual nunca tinha de ter desviado. Não há poesia no que não há chama? Veremos.
Tento aqui colocar o mesmo nome que tanto escrevi com canetas de fogo em papel de seda, valioso, a ser conservado.
Deve ser uma decepção ás minhas palavras tristes poder chamá-lo de amigo então, mas a mim não importa o que pensam essas damas, elas não foram convidadas para essa festa. Aqui, nessas linhas, elas não são bem-vindas.
Estranho te rabiscar em fundo tão claro, que nem minhas palavras parecem, mas agora serão...
Enfim eu soube, enfim você soube. Enfim está tudo bem com as cinco letras, em meu pensamento elas voltarão ao seu lugar original, onde são tão queridas quanto, de onde elas nunca deveriam ter saído.

sábado, 24 de julho de 2010

Cinzas

Deve ter algum motivo, algo muito forte, que não faz com que eu te esqueça.
Não deve ser mais o seu olhar, não deve ser mais o jeito que você cuidou e falava comigo. Deve ser algo que eu ainda não subtraí, que ficou entranhado no nosso amor entrelinhas, talvez seja.
Não ouço mais a sua voz, não te vejo, mas como ficou intacto todo aquele calor, aquela necessidade de te ter a cada segundo, o sorriso que me vem assim que um ar qualquer faz lembrar você.
Não existe explicação desse rompimento de algo que parecia tão certo, predestinado. Um dia você sumiu, e  fico buscando o porquê.
Então hoje, reli suas últimas cartas, tentando achar a palavra que te colocou para um outro caminho, a vírgula que me dissesse que tudo aquilo que você me falava não era amor, nunca foi.
Seria fantasia minha? Seriam aquelas juras, aquelas palavras, todas em vão, todas querendo dizer algo menos do que eu sentia?
Foi o fim, mesmo que não concretizado, o fim do nosso amor. Repentino, esfaquiado, brutal.
Pois em mim vive, remói. Em você virou cinzas, reduziu a pó?
Já faz tempo, mas ainda não o suficiente.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Não a espaço para quem não seja ela, não há espaço para mim, não há espaço para as minhas palavras.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Canto de Julia

O que você não faria por um bom amigo
Mesmo que ele não te quisesse
Nem como conhecida
Mesmo que ele te disesse
Que você não é uma boa amiga

Mudaria seu nome
Sua história
Seu destino
Só para, como um mero desconhecido
Continuar ao lado dele
Amparar as suas quedas
Curar suas chagas

O que você não faria, me diz
Que eu faço.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Regressão momentânea

Às vezes acho que você continua do meu lado.
É quase como se eu sentisse teu cheiro,como se eu sentisse teu olhar, seu abraço nesses meus desencontros com o chão, chão que um dia foi você. Sensação que me perturba, me desnorteia.
Junto à sua estranha presença inexistente, vem essa saudade que já doeu tanto, tanto, e hoje é só um calafrio que me atinge na lembrança do teu nome.
E hoje, tão de bem comigo estou, que às vezes te esqueço como pessoa. Logo eu que já te fiz de amor sem enxergar que minha amizade era tão maior que iludia.
Não voltaria no tempo, deixe as boas memórias como ficaram, deixe esse fim ser o nosso fim.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Tantos rascunhos guardados
Todos incompletos
Por quê?

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Entrelinhas

Achava ser imortal até o dia que disseram que não. Estou muito assustada com o que pode acontecer, nunca esperaria que isso pudesse ser real, ainda mais comigo que sou tão nova.(...)
Não era daquelas que obteria lamentações ao túmulo por ser a mais caridosa, a mais bondosa. Queria ter pensado mais na possibilidade, queria poder realizar meus sonhos, queria casar, queria ter filhos, queria ter a certeza de ter encontrado o amor da minha vida.(...)
E, de tanto brincar com a morte, a morte decidiu brincar com ela. Não quero morrer, não quero.(...)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Em homenagem a um escritor

Ela voltou sem nada, voltou do nada.
Não queria brigar, não pediu para ter uma conversa sobre o que fora.
Voltou e eu rodava embriagado, sem pretenções, acho.
Sentou ao meu lado e suspeitei. Tanta calma.
E agora sou eu quem quer falar de passado, ou será que nunca foi?

A volta que não nego

Me perdoe, amor
Pois me mascarei
Para fazer-te crente
Da força que não tinha
Do amor que eu acredito
Na verdade, e sempre

Pois hoje me vê
Sem palavras ensaiadas
Sem a seguridade de um gladiador
Sem a indiferença de um estranho...

... Provida de um amor que nunca neguei.

domingo, 6 de junho de 2010

Melhor mil palavras em um vazio do que um vazio em mil palavras.
Parei,

sábado, 15 de maio de 2010

Resposta

O amor não é egoísta, é puro, se contenta por si só.
Não desanima com as suas quedas, não ouve o que os fatos falam.
Amar é não conseguir que, apesar dos pesares, a pessoa amada te decepcione internamente pois, mesmo nos piores erros, ela continua sendo sua metade, como se nada tivesse acontecido.
Pensamos muitas vezes em amor com um sentimento exarcerbante, como uma necessidade de posse incontrolável e por isso, muitas vezes que mimetizamos a sua existência, descobrimos um dia que só foi mera paixão. E paixão acaba por se fogo, morre porque se asfixia, consome pela própria existência.
O amor é calmo, pacífico, o amor perdoa.
O amor perdoa, sim.

sábado, 8 de maio de 2010

Carta de Marina

Meu grande amor,
Porque te amo, te chamo de amor, te deixo escolher.
Pois não somos mais os mesmos, pois não sou a mesma sorridente, desprovida de problemas dos mais simples aos insolucionáveis.
Se ao som da ventania nos abraçavamos por nos apoiar, hoje você é o meu único suporte, mas não é certo.
Não delongarei despedidas prematuras, não farei com que você pense que isso será só mais um dos meus adeus temporários, onde me perco num olhar petrificado, que não foca em nada, mas retorna ao brilho do que é teu.
A questão vem da justiça de ter-te ao meu lado mas você, por um deslize meu, escapa e nem sabe.
Digo, mais uma vez, decisão sua, amor meu.
Se acaso não me queira mais como sua amada, chorarei mas ficarei em paz por deixá-lo ir, como um pássaro,vai migrar para outros horizontes, se assim for melhor, se assim for para ser. Será breve? Será que retorna?

Lágrimas não sei de que,
Marina.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

No décimo segundo

A brisa fria batia lentamente e empurrava meus olhos para os céu estrelado. Não importava mais o barulho da cidade, das buzinas, dos coxixos das pessoas.
Peguei teus braços e me emvolvi como alguém que se agasalhava, ou se protegia. Senti seu calor e as batidas ritmadas do seu peito perto, me acolhendo em um silêncio de suspiros pois, sim, sempre me fará supirar.
Em uma breve surpresa, meus olhos aguaram na felicidade de ter esse momento, esse minuto que parecia ser mais um dos nossos minutos.
 E estava feliz simplesmente por estar ao meu lado, tê-lo no mais simples abraço, na mais simples noite.
Não importaria mais o tempo, só você, só você e eu. Assim será...

domingo, 2 de maio de 2010

Ressaca

Da surpresa que se esconde em luzes piscantes
Encontrei a escuridão tênue, quase que despedaçada
Vi ao longe,
Copo de uísque na mão,
Olhar deseludido ou sonhador
Não sei.

O canto da música ensurdecia meus pensamentos
O que fala mais alto, o que falou
E me disse:
Amo.

Mas num desgosto
Desacreditei a canção
E parti para o silêncio
Para não morrer quando deveras eu me escutar.

Adeus.

domingo, 18 de abril de 2010

As palavras tocam as pontas dos meus dedos, mas retornam arrependidas aos estilhaços do meu peito.
Não há mais poesia, não há mais tempo, não há mais coração.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Poesia invertida

Eu cresço enquanto você muda.
Eu cresço e me torno definivo,
você muda por ser cômodo não se solidificar.

Qual será o limite da sua mutação?
Quem você vê quando se olha no espelho?
Qual é a personagem de hoje?
Que bom ator você é!

Será você ele ou ela?
Será vivo?
Será feliz?
Será depressivo?
Será suicída?

E quando não consegue,
e quando não tem mais nomes parar fugir,
será você você mesmo?
Será que se anula?
Será que se esquece?
De quem você se esquece?
Quem é você?

Quem vai ser hoje, Marina?

sexta-feira, 5 de março de 2010

Na falta

Mandaram eu não parar de escrever pra não deixar a vontade no ar, pra não perdê-la por não tê-la na segunda-feira.
Mandaram eu não parar de escrever pra não engolir o que eu sinto, como engulo as palavras ao ver o mundo girar tão, mas tão depressa.
Mandaram eu não parar de escrever pra não fugir de mim mesma, pra me encontrar entre vírgulas, como aposto, ou entre linhas como segredo.
Mandaram eu não parar de escrever pra não deixarem de me ouvir, pra encobrirem meu sufoco e se deliciarem com ele.
Mandaram eu não parar de escrever, mas pra que mesmo?

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Reflexão de Marina

Sempre me peguei pensando no porque, depois de tanto, você nunca me amou.
Talvez tenha sido esse meu jeito invasivo, essa minha vontade de te ter que me subia a cabeça, o jeito estranho que eu tinha no olhar.
Revivi as palavras trocadas, aquelas conversas que se perderam no tempo, tanto ou mais quanto nos perdemos nesse mundo. Não há mais você e eu, há você...e eu.
Senti novamente tudo que você me fez sentir naqueles dias que eu tanto precisava de alguém do meu lado: aquele calafrio que me petrificava toda vez que te via ou quando tocava teu nome falando, lendo ou pensando.
Existia sempre uma tensão, algo indefinido, ficava sempre entrelinhas o que tinhamos a dizer um para o outro mas, se era assim, se me parecia tão real, aonde sumimos?
Sempre me peguei pensando no porque, depois de tanto, você nunca me amou.
Talvez tenha sido essa minha alma tão sonhadora, que tivesse ido tão alto ao ponto de se iludir e não te deixar nem ao menos me alcançar.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Desabafo

"E eu descobri que meu castelo se sustentava em pilares de areia."
Bateu como um flecha o verso traduzido da música, uma perfeita trilha sonora do que revivia em sua mente.
Em um segundo voltou ao tempo e se viu no meio daquela multidão que cercava o que de santo só tinha o nome.
Sentiu novamente suas pernas tremerem como tremiam aquele dia, rosto escondendo-se, abaixado, virado para os pés: talvez se olhasse para o chão ninguém a veria, pensou.
Não sentou no mesmo banco, não conversou com as mesmas pessoas. Subiu as escadas pensando que aquilo tudo seria somente sua mente, já tão perturbada pelo passado, pregando uma peça, fazendo-a acreditar estar dentro de um pesadelo que, de fato, era real.
Não demorou até que a multidão dos coxixos a cercasse e a afogasse em perguntas daquilo que não queria nem ao menos pensar. Naquele momento viu a realidade que teria de enfrentar. Acabou a sua ilusão, olhar pro chão a esconderia, fingir que nada havia acontecido não faria com que as pessoas a esquecessem.
Levantou a cabeça por um segundo, mesmo que contra a sua vontade, para ver se algum amigo havia restado para socorrê-la mas, num suspiro, tudo tornou-se duna.
Ah, já faz tanto tempo!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Mais um dia

Dei meus passos vacilantes naquela rua cheia e deserta, de olhares perdidos, do tempo corrido.
Centenas de rostos, sem abraço, apressados. E sempre a impressão de estar sendo observada, e sempre a impressão de estar só.
Era um beco sem saída a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, espero o sinal abrir e corro junto à multidão.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Equinócio

"Quando começar o frio dentro de nós" não me culpe pelo desespero, não aumente as palavras que aumentarei pra te ferir.
Não veja as milhões de razões do meu "não te quero mais", pois hei de te querer mesmo com a tempestade vindo em minha direção, será minha armadura e minha hipocrisia.
"Quando começar o frio dentro de nós" não veja a ausência de cores, não queira buscá-las em outra pessoa. Te imprimirei em cada verso desse triste espaço em branco, branco das cores que se juntaram mas, como é incrível, não as verei mais.
"Quando começar o frio dentro de nós" não procure respostas, só cure as feridas e, o mais importante, não me sufoque com minha própria solidão.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Raphael

Não te peço eternidade
Não te peço rosas vermelhas
Não te peço adoração
Não te peço nem ao menos a presença
Só te peço o teu sorriso
Tão branco e tão sincero
Te peço o carinho
Te peço as palavras macias
Te peço a amizade
E às vezes até beijos
Mas, acima de tudo, eu te peço.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Arpoador

A luz dos holofotes iluminava as silhuetas.
A noite era escura e estrelada, o mar, levemente agitado, batia nas pedras elaborando uma sinfonia de mistério, de um futuro inteiro ainda por vir.
Os olhos entrelaçavam-se em olhares quentes e meramente calculados. Ele a envolveu em um abraço terno, mesmo que não intencional, e apontou para a tempestade ao fundo.
Ela guardava em seus pensamentos escritos, poemas irregulares, palavras fortes, versos cortantes. Estava por vir ou por ir os raios e trovoadas?
Ele sorriu, olhou-a nos olhos e sem soltar ao menos uma palavra, selou um beijo respondendo os questionamentos inseguros da menina:
- A tempestade foi-se, já era tempo.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A essência

Tinha um brilho misterioso no olhar, o cabelo bagunçado e palavras, muitas palavras a serem ditas.
Nunca entendeu porque já foi ou era amada naquele momento. Sempre via-se como um lixo, algo deixado, sem encanto, sem perfume. Talvez fosse por isso que tivesse tanto medo ao ouvir o som daquelas três palavras doces e, ao mesmo tempo, afiadas para ela. Ela nunca acreditava, tinha medo da ilusão, da verdade que criava, da verdade que dizia-se mentira.
Dessa insegurança inesplicável caiam as lágrimas, a sua solidão muito bem acompanhada, os pesadelos repetitivos em todas as noites. Sempre os mesmos monstros, para a mesma garota sem sorriso.
O por que disso tudo? Talvez nunca descobrirá. Talvez guarde até a morte. Talvez agarre e abafe como as palavras que vem até à ponta da língua e retornam em medo, as engole.
Tudo que a resta é o barulho das teclas, as tintas e o vento, tão silencioso e desacreditado quando ela.
Tinha um brilho misterioso no olhar, o cabelo bagunçado e palavras, muitas palavras a serem ditas.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Conto de Marina

Bagunçou o cabelo, olhou-se no espelho.
As pontas de cigarro no chão, as garrafas rachadas, a música ensurdecia.
Já não era noite, nem manhã. Era a hora da insônia que antes tinha, tomava a cama e o quarto, fazia-a pensar na solidão.
Não sabia se era Marina em festa. Talvez tivesse certeza que não fosse, mas a solidão já era tão incomoda que se acomodou às máscaras, às noites viradas, ao álcool. Era preferível.
Saiu daquele único espaço iluminado, espestiado de vômito, e voltou para a pista.
Encontrou amigos e, quem diria, até alguns boêmios que elevavam seu ego em olhares. Mesmo assim, mesmo acompanhada, algo faltava.
Acendeu o celular, olhou a foto.
Ah, Marina, é difícil esquecer um amor!
Fechou os olhos.