segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Depois que você chama o elevador

Quando você sai fica esse cheiro no travesseiro
O meu sorriso no rosto
E essa vontade imensa de escrever

Suspiro na fronha 100% poliéster
Sorrio de doer as covinhas
Meus dedos pulam como pulgas no teclado

Volte sempre!

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Valsa na Exposição

Dou dois passos para trás, como quem dança uma valsa
Para te olhar ali, concentrado
Te observar, sem que você perceba meu encantamento

Dou dois passos pra frente, retorno ao seu lado
Faço um comentário sobre a luz, a cor, o ângulo
"Gosto como a sombra ficou nessa aqui!"

Dou dois passos para trás, fujo da sua vista novamente
Te flagro com os olhos semicerrados, lábios pressionados
"Será que ele tá livre na terça?"

Dou dois passos pra frente, você me surpreende:
Dá dois passos pra trás, me abraça pelas costas
E eu, discreta, sorrio como quem olha para uma moldura vazia

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Com calma

Encantada aos pouquinhos

Leve e suave como sua voz baixinha

O sonho do bebê

Tenho um sonho frequente. Quase toda semana eu sonho que dou a luz a uma criança antes da hora, muito pequena e frágil. Um bebê do tamanho de uma mão e aparência prematura.

Eu tento amamentá-lo sempre mas nunca funciona. Até que chega uma hora que ele some e eu saio procurando-o entre a bagunça. Vou perguntando aos meus familiares onde ele está, alerto que é um bebê muito frágil, mas todos ignoram, como se eu tivesse alucinando ou como se não ligassem para a minha aflição.

O bebê nunca tem pai. Eventualmente figuras do meu passado aparecem no sonho e eu as encontro sabendo que não são o pai. E também não me ajudam a procurar, nem ao menos ficam comovidos com o meu desespero.

Às vezes eu encontro o bebê no meio da bagunça, quase morto. Às vezes o sonho termina antes.

Para onde?



Eu sou extremamente cafona

Meu Uber agora sugere seu endereço e eu achei isso um máximo.

Medo de mar

Medo de (a)mar


Medo geral do que me foge ao controle

Medo de mergulhar nas minhas profundezas e nunca mais voltar

Brado

Os berros eram o que mais me assustava

Seu grito na minha cara

Soprando, perto da minha pele

O som do impacto das coisas no chão

Eu não gosto muito de barulho


Ainda consigo sentir o desconforto no ouvido

A forma como o prédio parecia tremer

E a sensação de "causa perdida"

Mas a memória da vontade cega de ainda seguir

Pisando em ovos, desviando de porcelanas

Logo eu que sou tão estabanada


Meu direito de existir terminava com a sua vontade de me encolher 

Os sons reverberavam e batiam nas paredes que eram pra ser de amor

Imersa do estrondo da sua raiva, eu me sentia um defunto de tão fraca

E ainda vivo luto de uma parte minha que morreu


Pequena nota de segunda

Às vezes fico na dúvida

Se gosto menos ou se gosto mais

Suspiro confortável:

Acho que gosto melhor

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Largo dos Leões

Acho que gosto de você

Gosto como você fala baixo, ajeita o cabelo atrás da orelha e me olha com seus olhos de Beatle idealista

Gosto da cor chumbo do seu cabelo, quando passa nos meus dedos, dançando entre as mechas azuis que você nunca retocou

Gosto como sempre você tira os óculos antes de me agarrar

Gosto de sentir você em mim enquanto olha nos meus olhos e fala baixo no meu ouvido: "Gostosa!"

Gosto como os nossos corpos se complementam em um ritmo único quando isso acontece

Gosto do jeito que você acredita que vai mudar o mundo, viajar para todos os cantos ou fotografar no Tibete um dia

Gosto de olhar suas fotos na parede da sala e acreditar nisso

Gosto como as luzes do Largo dos Leões iluminam a calçada em dourado no sol da manhã, assim que saio da sua casa (a pé, pra sorrir por mais tempo depois de te encontrar)