sábado, 3 de dezembro de 2011

Pedras Portuguesas

Ontem você me deixou à mercê de qualquer um. Partiu sem se despedir, com a angústia nos olhos e eu, que já não sou tão esperta, fiquei deglutindo cenas até de fato crer:  foi embora.
O calor da noite, as copos minúsculos e fortes, olhares perdidos em mim. Depois de tanto tempo, eu já não sabia mais usufruir de qualquer liberdade. Você me impôs uma, me senti na obrigação de aproveitar.
Nem passos pela cidade, nem táxis me levando de bar em bar ou amigos querendo me tirar da consciência. Nada parecia certo, nem um sorriso sincero saia de mim. Me perdia parada nas ruas, ouvindo todos e ninguém, contando morcegos no céu negro.
Saí perambulando em passos tortos na imensidão marginal do Rio de Janeiro: "Preciso voltar para casa. Fecha a conta!".
Esperei ao relento bondes que nunca vinham, barcas submersas, ou você em alguma loucura. Não veio.
Andei mais um pouco, senti um calafrio me tocar, uma lágrima ensaiando minha derrota. E achei a sorte em um ônibus barulhento, escuro, que me levaria ao inferno que criei.
Não há certo ou errado. Não há perdão ou perdoar. O que há são as pedras portuguesas, olhando para a minha solidão, criando ritmos com minhas sapatilhas.

Liguei, esperei, recebi o frio que esperava (ou merecia?).

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