segunda-feira, 18 de julho de 2011

Black Cherry

Balançou o copo de uísque, lançou seu olhar matador e foi ao alvo.
Os olhos verdes e o cabelo cor de graúna só realçavam a fatalidade que ela pregava em cada gesto ou em cada vez que apertava o corselê.
Um beijo. Mais uma bebida. Música alta. Amassos no sofá do canto. "Quer ir lá pra casa?".
Sim, claro que sim. E adentrou o carro dele como se fosse o seu. Esticou os pé no porta-luvas, abriu a janela, puxou Lucky Strike, machou-o com o vermelho profundo que tinha pintado os lábios (e no drama).
A meia-luz fazia meia também o verdadeiro eu. Ali eram só corpos, corpos lentamente se deliciando do descaso de uma noite sem planos, para ele.
Seios em formas de lanças, ferindo ao toque com a pele quente. O bafo de bebida de ambos infestando a casa com amnésia. Cenário perfeito para dois pagões, dois frutos do meio do qual partiram, insensível.
Talvez os lençóis de algodão não cobrissem por inteiro, talvez a música da vizinhança acordasse o que estava desmaiado, em coma.
E foi assim toda a noite, o incerto e o pagão, o que quer esquecer e o que vai (e vem).

Mas a claridade do amanhecer desfaz a luz indireta e a torna estourada.
O brilho dos olhos já é diferente. O hálito alcoolizado torna-se insuportável. Os lençóis de deus-sabe-quantos-fios não protegem nem mais os pés.
Colocou rapidamente o corselê preto. Café requentado. Barulho dos sapatos. "Não vai me dar nem o seu telefone?".
Não, é claro que não. Bateu a porta e balançou o copo de café.

para ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=6YW2G6Z2bMQ&NR=1

Nenhum comentário:

Postar um comentário