segunda-feira, 18 de julho de 2011

Audio Rebel

Catuaba e rock 'n roll. Tudo que eram, que queriam ser, que usam de armadura.
O baixo alto falando indecencias, as luzes sicronizadas com o som da bateria.
Se agarravam pelas paredes ou um no outro? Vivendo a certeza de uma noite digna de um sonho adolescente, tocando em rádios de bares e motéis.
Pegaram um táxi para o destino que esperavam (talvez não o que pretendiam), e se deliciaram com os espelhos que refletiam todas as sensações que os tomavam dos pés até o arrepio dos pêlos.
"Não tem mais ninguém lá em casa."
E o que era para ser um sonho de horas tornou-se um sonho de uma noite. Com prazeres que surpreendiam, com ventos que berravam, com olhares que diziam o que esperavam e não esperavam dali pra frente.
A simplicidade do frango requentado para repor energia, o frio que não atrapalhava a nudez escancarada da cena, o sono cansado e o amanhecer chuvoso, para refrescar o desejo (sem fim).
Talvez eles não soubessem ou tivessem certeza do que viria pela frente. Mesmo sabendo que queriam muito um ao outro, mesmo tentando sussurar isso com um olhar perdido, deitados na cama.
Tinham receio no olhar do "dia depois", tinham receio da paixão que desafinava a banda.
E que os tomou, completamente.

Black Cherry

Balançou o copo de uísque, lançou seu olhar matador e foi ao alvo.
Os olhos verdes e o cabelo cor de graúna só realçavam a fatalidade que ela pregava em cada gesto ou em cada vez que apertava o corselê.
Um beijo. Mais uma bebida. Música alta. Amassos no sofá do canto. "Quer ir lá pra casa?".
Sim, claro que sim. E adentrou o carro dele como se fosse o seu. Esticou os pé no porta-luvas, abriu a janela, puxou Lucky Strike, machou-o com o vermelho profundo que tinha pintado os lábios (e no drama).
A meia-luz fazia meia também o verdadeiro eu. Ali eram só corpos, corpos lentamente se deliciando do descaso de uma noite sem planos, para ele.
Seios em formas de lanças, ferindo ao toque com a pele quente. O bafo de bebida de ambos infestando a casa com amnésia. Cenário perfeito para dois pagões, dois frutos do meio do qual partiram, insensível.
Talvez os lençóis de algodão não cobrissem por inteiro, talvez a música da vizinhança acordasse o que estava desmaiado, em coma.
E foi assim toda a noite, o incerto e o pagão, o que quer esquecer e o que vai (e vem).

Mas a claridade do amanhecer desfaz a luz indireta e a torna estourada.
O brilho dos olhos já é diferente. O hálito alcoolizado torna-se insuportável. Os lençóis de deus-sabe-quantos-fios não protegem nem mais os pés.
Colocou rapidamente o corselê preto. Café requentado. Barulho dos sapatos. "Não vai me dar nem o seu telefone?".
Não, é claro que não. Bateu a porta e balançou o copo de café.

para ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=6YW2G6Z2bMQ&NR=1

terça-feira, 12 de julho de 2011

Tudo por mim

Quando Marina cantou no meu ouvindo que você me tem fácil demais e não parece capaz de cuidar do que possui, eu confesso: tomei aquilo como verdade por um tempo.
O problema, é claro, nunca foi nem vai ser você ou o seu jeito improvavelmente provável.
Sou eu, meu querido, que te disse para ir e você ficou. E fez assim, tudo por mim, já foi pensando que sou sua.
Meu ego foi para além do meu abismo e meu senso de proteção foi carregado junto, amarrado com um grilhão.
Faz parte da minha "selvageria" querer me preservar tanto ao ponto de ter a insana ideia de abandonar um grande amor para viver segura, na minha própria solidão.
Eu te recuso, eu te maltrato, eu finjo uma briga. Eu te testo.
Não posso falar que não gosto, mas posso dizer que é (quase que) involuntário. Eu odeio o jeito que te firo, mas amo a reafirmação que vem na sua resposta.
Não sei quando vai acabar e talvez esteja escrevendo isso num desespero do grito de "corra enquanto é tempo". E sorrindo, propondo que você peça para que eu te deixe em paz.

Mas se você disser vá, eu não vou.

Inspirado na música "Nada Por Mim", interpretada por Marina Lima, composta por Hebert Vianna e Paula Toller.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Vinho derramado

Então as crianças das pracinhas não me passam mais desapercebidas. Os casais apaixonados, aos meus olhos, são sempre menos que nós. Os vestidos brancos podem ser azuis desde que usados com você.
É estranha, sim, a certeza. Mais que a certeza, o amor.
Passei por tanto estranhos, rolei em tantas camas, valorizei tanto a mediocridade. E no final foi você, logo você, que mudou o sorriso sinistro que ocupava os buracos do meu coração, e o fez real, os preencheu.
O jeito como se espalha quando dorme, seu ronco de cansaço, o modo como sua boca não consegue fechar quando está preso em um carro. Tudo que irritaria a qualquer um (ou uma), no fim eu acho graça e penso: quero para toda a minha vida.
Nossas viagens pelo mundo, nossos filhos lindos de morrer, nossa velhice cheia de histórias para contar. Imagino muito o futuro, mas vivo o presente (tão agradável ao seu lado).
Meus dezoito-quase-dezenove anos somem. Pontes, perimetrais, avenidas, todas viram pó. Não há nada que seja demais, ou que separe, ou que nos faça deixar de ser nós.
[E, sim, eu caso.]