domingo, 24 de janeiro de 2010

Equinócio

"Quando começar o frio dentro de nós" não me culpe pelo desespero, não aumente as palavras que aumentarei pra te ferir.
Não veja as milhões de razões do meu "não te quero mais", pois hei de te querer mesmo com a tempestade vindo em minha direção, será minha armadura e minha hipocrisia.
"Quando começar o frio dentro de nós" não veja a ausência de cores, não queira buscá-las em outra pessoa. Te imprimirei em cada verso desse triste espaço em branco, branco das cores que se juntaram mas, como é incrível, não as verei mais.
"Quando começar o frio dentro de nós" não procure respostas, só cure as feridas e, o mais importante, não me sufoque com minha própria solidão.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Raphael

Não te peço eternidade
Não te peço rosas vermelhas
Não te peço adoração
Não te peço nem ao menos a presença
Só te peço o teu sorriso
Tão branco e tão sincero
Te peço o carinho
Te peço as palavras macias
Te peço a amizade
E às vezes até beijos
Mas, acima de tudo, eu te peço.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Arpoador

A luz dos holofotes iluminava as silhuetas.
A noite era escura e estrelada, o mar, levemente agitado, batia nas pedras elaborando uma sinfonia de mistério, de um futuro inteiro ainda por vir.
Os olhos entrelaçavam-se em olhares quentes e meramente calculados. Ele a envolveu em um abraço terno, mesmo que não intencional, e apontou para a tempestade ao fundo.
Ela guardava em seus pensamentos escritos, poemas irregulares, palavras fortes, versos cortantes. Estava por vir ou por ir os raios e trovoadas?
Ele sorriu, olhou-a nos olhos e sem soltar ao menos uma palavra, selou um beijo respondendo os questionamentos inseguros da menina:
- A tempestade foi-se, já era tempo.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A essência

Tinha um brilho misterioso no olhar, o cabelo bagunçado e palavras, muitas palavras a serem ditas.
Nunca entendeu porque já foi ou era amada naquele momento. Sempre via-se como um lixo, algo deixado, sem encanto, sem perfume. Talvez fosse por isso que tivesse tanto medo ao ouvir o som daquelas três palavras doces e, ao mesmo tempo, afiadas para ela. Ela nunca acreditava, tinha medo da ilusão, da verdade que criava, da verdade que dizia-se mentira.
Dessa insegurança inesplicável caiam as lágrimas, a sua solidão muito bem acompanhada, os pesadelos repetitivos em todas as noites. Sempre os mesmos monstros, para a mesma garota sem sorriso.
O por que disso tudo? Talvez nunca descobrirá. Talvez guarde até a morte. Talvez agarre e abafe como as palavras que vem até à ponta da língua e retornam em medo, as engole.
Tudo que a resta é o barulho das teclas, as tintas e o vento, tão silencioso e desacreditado quando ela.
Tinha um brilho misterioso no olhar, o cabelo bagunçado e palavras, muitas palavras a serem ditas.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Conto de Marina

Bagunçou o cabelo, olhou-se no espelho.
As pontas de cigarro no chão, as garrafas rachadas, a música ensurdecia.
Já não era noite, nem manhã. Era a hora da insônia que antes tinha, tomava a cama e o quarto, fazia-a pensar na solidão.
Não sabia se era Marina em festa. Talvez tivesse certeza que não fosse, mas a solidão já era tão incomoda que se acomodou às máscaras, às noites viradas, ao álcool. Era preferível.
Saiu daquele único espaço iluminado, espestiado de vômito, e voltou para a pista.
Encontrou amigos e, quem diria, até alguns boêmios que elevavam seu ego em olhares. Mesmo assim, mesmo acompanhada, algo faltava.
Acendeu o celular, olhou a foto.
Ah, Marina, é difícil esquecer um amor!
Fechou os olhos.